segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Vaquinha Felicidade

A Vaquinha Felicidade

Hoje acordei com saudade
Do tempo bom de criança,
Das brincadeiras de roda
Guardada em boa lembrança.
Tive um pião colorido
Que eu perdi na mudança.

Por ele chorei bastante
E assim ganhei a vaquinha,
Que dançava e rebolava,
desmaiava a coitadinha.
Comia tanto capim
Era redonda e gordinha.


Muito exibida e charmosa,
Por nome Felicidade,
Balançava o rabo grande
Era feliz de verdade.
Dizia que dava leite
Pra alimentar a cidade.

E ao comando do meu dedo
Minha vaquinha dizia
Que a maior felicidade
Era a minha companhia.
Na palma da minha mão
Contava história e poesia.

Casinha, castelo, pontes;
Vi as fadas e os anões
Duendes de gorros verdes.
Vi princesas e dragões.
Dom Quixote e Sancho Pança
A correr nos espigões.

Carruagem rumo às estrelas
Da minha infância dourada,
O cheiro do campo florido
De terra boa e molhada.
Pegava os pingos da chuva,
Brincava na enxurrada.

Dormia ouvindo histórias,
Da vaquinha espoleta,
Que tinha um olho enorme
E na testa a mancha preta.
Quando encarava, eu sorria;
Tinha medo de careta.

Felicidade dizia
Que a pobreza não existe!
Porque o João Alegre é rico,
Mas tem uma cara triste...
Que a maior riqueza nossa
É saber que o amor existe.

João Alegre é muito triste...
Por ter medo de ladrão,
Guarda o dinheiro em casa
Embaixo do seu colchão.
E quando a visita chega,
Ele atende no portão!

João não tem namorada
Pra não ter que dar presente,
Não usa desodorante,
E nem toma banho quente.
Graças a Deus mora longe...
Nunca será meu parente.

Quanta história engraçada...
Morro de rir da vaquinha,
Que ficou roxa de raiva
Amarela e vermelhinha
Quando o João Alegre disse:
- Vaca mala sem rodinha!

Minha vaquinha querida
Dançava igual macaca!
Tinha uma flor na cabeça
E no pescoço uma placa,
Com os seguintes dizeres:
“Eu sou a mais linda vaca”.

Papai perdia os cabelos,
Estava meio careca,
Dizia que a culpa era minha
Porque eu era tão sapeca...
Mas a mamãe defendia,
Eu era a sua moleca.

Meu quarto desarrumado
Provocava a confusão,
Deixava papai zangado
Porque caiu um “tombão”
Tropeçou, catou cavaco,
Esborrachou-se no chão.

Tinha alegria, alvoroço,
Tata, Ninha, Zeca, Dola,
Tuca e eu grande galera
No quintal jogando bola.
Felicidade chamava:
- É hora de ir pra escola.

Punha a mochila nas costas
Andava uma légua e meia,
Descansar ninguém podia,
Reclamar é coisa feia.
Da Santa Helena distante...
Saudade corre na veia.

Santa Helena era a Fazenda
Onde nasci e fui feliz,
Eu era a dona de tudo,
E a mais fiel aprendiz!
Na casa branca, caiada,
Fiz do carvão o meu giz.

No chão de terra escrevia...
Poemas para a vaquinha
E pra linda Zabelita,
Minha boneca lindinha
Toda feita em papelão
Meiga e doce amiguinha.

Zabelita vem de Izabel,
Minha tia muito linda,
Alegre, bem humorada,
Que era sempre bem-vinda.
Zabelita desmanchou-se...
Tia Izabel vive ainda.

Zabelita tomou chuva,
Esquecida no terreiro,
Sei que a culpa foi minha
Por isso abri um berreiro,
Peguei o que sobrou dela,
Fiz um lindo tabuleiro.

E a minha Felicidade
Conservo juntinho a mim,
Minha mascote querida
Flor de encanto, querubim,
Conselheira, grande amiga
Que me faz feliz assim.

É a primeira a ouvir
Meus versos cheios de cor,
Sabe que são verdadeiros
Cheios de vida e calor.
Sempre a gritar para o mundo
Deste canteiro de amor.

De onde mora a poesia,
Onde não entra tristeza,
Morada dos beija-flores;
Coração de natureza
Borboletas têm aos montes,
Felicidade é certeza. 
Fátima Fílon

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